Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Um sábio declarou a O Jornal que ainda
falta muito para atingirmos um nível
razoável de cultura. Mas até lá, infelizmente,
estarei morto.
(Desconfio que escrevi um poema)
ANEDOTA BÚLGARA
Era uma vez um czar naturalista
que caçava homens.
Quando lhe disseram que também se caçam borboletas e andorinhas,
ficou muito espantado
e achou uma barbaridade.
depressa que o amor
Não pode esperar!
Tristeza de guardar um segredo
que todos sabem
e não contar a ninguém
(que esta vida não presta).
Um novo, claro Brasil
surge, indeciso, da pólvora.
Meu Deus, tomai conta de nós.
Não sou alegre, sou até muito triste.
A culpa é da sombra das bananeiras do meu país, esta sombra mole, preguiçosa.
Há dias em que ando nas ruas de olhos baixos
para que ninguém desconfie, ninguém perceba
que passei a noite inteira chorando.
É sempre a mesma sen-si-bi-li-da-de.
No elevador penso na roça,
na roça penso no elevador.
Jesus já cansado de tanto pedido
Dorme sonhando com outra humanidade.
Ninguém sabia que o mundo ia acabar
(apenas uma criança percebeu mas ficou calada),
que o mundo ia acabar às 7 e 45.
Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe o que será.
Eu não sou daqui,
sou de outra nação,
Eu não sou brinquedo.
Suponha que um anjo de fogo
varresse a face da terra
e os homens sacrificados
pedissem perdão.
Não peça.
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói.
Oh! Deixai-me dormir convosco.
Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignorm,
mas a areia é quente, e há um óleo suave
que eles passam nas costas e esquecem.
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Estúpido, ridículo e frágil é o meu coração.
Só agora descobro
como é triste ignorar certas coisas.
Era bom amar, desamar,
morder, uivar, desesperar,
era bom mentir e sofrer.
Meu pai, meu avô Alberto...
Todos os mortos presentes.
Já não acendem a luz
com suas mãos entravadas.
As palavras não nascem amarradas,
Elas saltam, se beijam, se dissolvem.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático.
Penetra surdamente no reino das palavras.Lá estão os poemas que esperam ser escritos.Estão paralisados, mas não há desespero,há calma e frescura na superfície intata.Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.Espera que cada um se realize e consumecom seu poder de palavrae seu poder de silêncio.Não forces o poema a desprender-se do limbo.Não colhas no chão o poema que se perdeu.Não adules o poema. Aceita-ocomo ele aceitará sua forma definitiva e concentradano espaço.