sexta-feira, 12 de agosto de 2016

~ ÚLTIMA CANÇÃO DO BECO ~





Beco das minhas perplexidades
(Mas também dos meus amores,
Dos meus beijos, dos meus sonhos),
Adeus para nunca mais!

Vão demolir esta casa.
Mas meu quarto vai ficar
Não como forma imperfeita
Neste mundo de aparências:
Vai ficar na eternidade,
Com seus livros, seus quadros,
Intacto, suspenso no ar!

Beco de sarças de fogo,
De paixões sem amanhãs,
Sua luz não recolheu nestas pedras
O orvalho das madrugadas,
A pureza das manhãs!

Beco que tanto pecais!
Nossa Senhora do Carmo,
De lá de cima do altar,
Pede esmola para mulheres tão tristes,
Que vem na porta do templo
De noite se agasalhar.

Beco que nasceste à sombra de paredes,
Por isso te amei constante
E canto para dizer-te
Adeus para nunca mais!


domingo, 5 de junho de 2016

Me abre e lê inteira

Me abre e lê inteira

Agora, bem devagar
Me abre e começa a devorar
Lê linha por linha
Me sente
Engole cada palavrinha,
Até as forças esgotar...
Faça jorrar imaginação,
Me mapea com as mãos.
Saboreia meus conceitos,
Entenda meus versos gastos,
Me tenha como gosto,
Sintaxe, êxtase, pronome composto.

Isso, segura!
Murmura,
Tira verso por verso
Me deixa Nua (poesia pura)
Que na próxima pagina eu confesso.

Minhas rimas estão dançando no teu carro,
É nos teus 'porém' que eu me espalho,
Com cada palavra gozada os retalho.

Sou seu livro,
Livro aberto,
Nú e concreto,
Não passe apenas as páginas,
Absorva os pensamentos,
Sinta junto,
A cada vez que molhar os dedos
E virar ao próximo texto
Implorando teu beijo
Lembre-se:
Mergulhou em mim, agora vá até o fim, até ler a minha alma.

Rosane Silva